Surf em Lisboa: Lições de vida de um surfista profissional

Esta semana, explorámos o oceano Atlântico numa sessão de surf em Lisboa, mais concretamente nos arredores da capital, nas águas de Cascais. 

Tudo começa às quatro hora de uma tarde quente na praia Morena, na Costa da Caparica. Enquanto aprecio a paisagem, recebo um telefonema do meu professor e surfista profissional, Tomás Valente: “Recebeste o meu e-mail?”, pergunta-me e continua, “Afinal, vamos para uma praia diferente”. E não, eu não recebi o email, ao que ele responde: “Ok, não te preocupes! Estás a ver alguém a dar aulas de surf na praia? Então, passa-lhe o telemóvel!”

Obediente, passo o telefone ao instrutor com roupa de mergulho, que está a poucos metros de mim, a terminar uma aula de surf. Sem fazer perguntas, ele segura o telefone e fala com o Tomás durante alguns minutos. Quando me entrega o telemóvel de volta, diz-me, com um suave sotaque português: “Tudo bem, vou-vos dar uma boleia”. E é assim que conheço o António Ribeiro, o sócio do Tomás e que no verão de 2015, lançou com ele a escola de surf Lisbon Surf Connection.

Eu e a Onya, a fotógrafa de serviço e mais quatro adolescentes encaixamo-nos na carrinha e lá vamos nós! É uma carrinha bem à surfista, com sete pranchas empilhadas no topo e areia por todo o lado!

Pelo caminho, explica-me que como esta vai ser é minha primeira aula de surf, é melhor irmos para uma praia mais tranquila, onde as ondas são mais adequadas a iniciantes como eu.

Quer o António, quer o Tomás são surfistas desde sempre! Inicialmente, criaram a escola para guiar grupos de turistas por todo o país. Nestes tours de surf, passam metade do dia a surfar as ondas mundialmente famosas de Portugal; enquanto a outra metade é usada para explorar vários recantos do país! Recentemente, começaram também a dar aulas de surf nas praias dos arredores de Lisboa e aceitam alunos de todas as idades.

Após 30 minutos no carro, chegamos ao destino. Apesar de estar à minha espera há mais de uma hora, sou muito bem recebida pelo Tomás e a caminho da praia, vamos falando animadamente!

“Eu surfei toda a minha vida profissionalmente” conta-me o Tomás, “Comecei a andar de skate e a brincar nas ruas da minha cidade natal, enquanto tentava imitar o Jackass.” Aos 11 anos, recebeu a sua primeira prancha de surf e ficou logo viciado.

Tomás Valente tinha 17 anos quando o primeiro patrocinador, a marca de surf e de skate Volcom, o convidou para se juntar à sua equipa de surf. Além de financiar as viagens, ainda lhe garantiram todo o apoio para se tornar num surfista profissional. Na altura, o Tomás não podia acreditar que seria pago para fazer aquilo de que mais gostava!

“Na altura, competi em nacionais e europeus e, durante dois anos, fui qualificado para o World Tour. Mas é muito difícil, há muitas distrações.” Quando lhe pergunto o que é que quer dizer com “distrações”, ele responde: “Tu sabes… És jovem, muitas festas, estás sozinho…”

Embora o surf profissional tenha sempre sido um sonho, o Tomás fala-me das desvantagens deste estilo de vida: “É um desporto muito solitário, especialmente quando competes ao mais alto nível. Vais à Austrália e tens meia hora para mostrar tudo o que podes fazer. Se perdes, acabou-se e vais para casa. Muitas pessoas ficam frustradas com isso e acabam por desistir de surfar.”

Recentemente, o Tomás anda a viajar pelo mundo, para fazer um documentário de surf, sobre locais remotos e exóticos onde surfar. Tudo isto, financiado pela Deeply, o seu patrocinador – a Deeply é também uma conhecida marca de surf portuguesa. “Os documentários cobrem a história do lugar, a comida, as pessoas e as ondas. O próximo será sobre Angola.” revela.

Ainda hoje, o Tomás gosta tanto de surfar como no primeiro dia. E, apesar de viajar para lugares exóticos e das exigentes competições, ele adora ensinar surf a iniciantes como eu.

Assim que chegamos à praia, posso sentir a força do vento. Já as ondas, estas têm menos de um metro de altura. Visto a minha roupa de mergulho – de longe, a minha roupa menos lisonjeira – e lá vamos, em direção às ondas. “Só de olhar para as pessoas, consigo adivinhar quem é que se consegue levantar ou não. Tu vais conseguir na terceira tentativa!” Eu rio-me! Sinceramente, acho impossível que me consiga levantar na prancha logo na primeira aula de surf, mas ele parece-me tão confiante, que nem me atrevo a dizer o contrário.

“Vou-te mostrar o básico, depois vamos para a água.” diz-me ele, enquanto coloca a prancha na areia. Depois, demonstra como me devo pôr de bruços, colocar as mãos no peito, puxar o pé de trás, entre outras técnicas de surf! 

Assim que entro na água, posso sentir como é fria! É tão fria, que os meus pés mais parecem dois blocos de gelo – menos mal, que a roupa de mergulho protege o resto do corpo! Começamos por nadar a poucos metros da costa e deito-me na prancha. Ao mesmo tempo, o Tomás vai-me explicando o que fazer: “Assim que uma onda chegar, vou-te empurrar. Depois aviso-te quando é que tens de te levantar.”.

Simultaneamente, sinto-me emocionada e desesperada, mas antes que tenha tempo de pensar, já ele me está a empurrar. Quando sinto o turbilhão das ondas debaixo da prancha, ouço um: “Levanta-te! Levanta-se!” Coloco as mãos no peito, ponho o pé para trás e, assim que dou impulso, logo perco o equilíbrio e caio na água. “Estás bem?” ouço e “Sim, estou” digo eu, ainda que meio a resmungar, enquanto uso a água do mar para me livrar da areia. Logo, posso ouvir o Tomás: “Ok, de volta à prancha. Vamos tentar de novo.”.

Durante a segunda onda, tudo parece acontecer mais rápido! Eu tento de novo, mas rapidamente perco o equilíbrio. Sempre positivo, o Tomás anima-me: “Isso foi muito melhor do que da última vez!” Segundo ele, a minha postura está quase lá e depois de mais algumas indicações, manda-me de novo para a prancha.

Quando avista a terceira onda, posso ouvi-lo animado: “Esta é uma boa! Prepara-te!” Desta vez, concentro-me, pois quero deixar o Tomás orgulhoso! E é com gritos alegres que, atrás de mim, ele celebra “Eu sabia! Eu sabia que a tua seria a terceira onda!”

Depois de quase 15 anos de surf profissional, o Tomás continua adorar partilhar a sua paixão e de ensinar surf aos outros: “Pessoalmente, adoro ensinar pessoas sem qualquer ligação ao surf! Pessoas que nunca praticaram nenhum desporto ou que vêm de bairros menos bons! Muitas vezes, essas pessoas não esperam nada e depois, assim que experimentam, ficam logo viciadas! Isso, dá-me muita alegria!”

E, durante o resto da aula, à medida que vou falhando algumas ondas e acertando outras, consigo entender perfeitamente o que ele quer dizer!

Aproveita para visitar o Lisbon Surf Connection e para descobrir mais sobre este projecto de surf em Lisboa. Também podes ficar a saber mais sobre o Tomás, aqui

Para mais informações, consulta os parceiros de surf do Urban Sports Club em Portugal

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